domingo, 2 de agosto de 2009

Preliminares









Uma estética da existência
Entrevista com Michel de Foucault
– Em um texto publicado em O Debate de novembro de 1983, você fala, em respeito da Antigüidade, de morais voltadas para a ética e de morais voltadas para o código. É esta mesma distinção entre a moral greco-romana e a que vai nascer com o cristianismo?


– Com o cristianismo, veio a se instaurar lentamente, progressivamente uma mudança em relação às morais antigas, que eram, essencialmente, uma prática, um estilo de liberdade. Naturalmente, havia também certas normas de comportamento que regulavam a conduta de cada um. Porém, a vontade de ser um sujeito moral e a procura de uma ética da existência era principalmente, na Antiguidade, um esforço para afirmar a própria liberdade e dar a sua própria vida uma certa forma na qual podia se reconhecer e ser reconhecido por outros e onde a posteridade mesma poderia encontrar como exemplo.

FOUCAULT, Michel. Dits et écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 730-735.
Tradução: Wanderson F. Nascimento


A lei de Deus e, posteriormente, a norma das ciências, ocupou por muitos séculos a morada de nossas próprias decisões e de nosso destinar no mundo. Aprendemos a delegar a intransferibilidade de nossa história ao conhecimento e cuidado de que os outros julgam e assim destinam ser quem somos, não pela experiência de se tornar quem se é pelo brilho público das ações e pelas escolhas dos afazeres, mas pela identidade do que não se pode evitar (ainda que se esconda) quando a lei de um saber vigora sobre a constituição de um caráter [...]


SILVA, Jason de Lima e. Foucault além de Nietzsche: da moral como lei e norma à avaliação da moral como ética e estética da existência. Tese de Doutoramento. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Orientador: Prof. Dr. Nythamar Fernandes de Oliveira. Porto Alegre, 2007. p.140-141


Se levarmos em conta que para Foucault a ética é um modo de relacionamento do indivíduo consigo mesmo (conf. Foucault, 1984: 219) a questão que se coloca é eminentemente prática. Não se trata de investigar o que, de propor um fundamento que volte a legitimar um código (ainda que mínimo); mas de perguntar-se pelo como, do como se constitui o indivíduo como sujeito moral de suas ações. O como introduz a variabilidade, a transformação possível, a diversidade.

Investigar o como conduz a encontrarse com o fato de que o fundamento é móvel e altamente transformável (Foucault demonstrou essa tese tanto para o âmbito do conhecimento, como para o político e moral nos seus livros mais célebres). Perguntar pelo como em relação à constituição do indivíduo como sujeito de suas ações supõe aceitar a variabilidade e a diversidade, pensar a ética como criação de e a partir da liberdade e pensar o sujeito como obra, obra de si mesmo, obra de arte. (grifos nossos)


NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Nos rastros de Foucault: ética e subjetivação. Disponível em http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/art02.html Acesso em 01/05/2009.

Créditos:

Imagem Ética: eduhonorato.wordpress.com
Imagem cinco sentidos: blogit.com.br
Imagem Foucault: phillwebb.net



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